Midnight Pub

Sem título

~nataraja64

 um cenáculo me espera,
sombras dançam debaixo das magnólias
por torres mirando o céu em olho,
passo em sonho esquecidos montes!
um trato longe como um tapete,
eu sou o sol, eu sou a liberdade,
uma herdade de outroras
esquecidos horários tropeço no tempo
onde sombras dançam,
 no jardim das migalhas.

sobre o mar iluminado
sonhei que era uma onda
a vagar.. eras e vaguei
acariciado pelas sombras do luar.

Vaguei por essas bandas,
vaguei para ser livre
do meu suor refletido nas flores;

a chuva era forte, me trazia lágrimas,
 então
 minha cidade foi submersa
  e os escombros
me levaram à praia. A bela praia
  inundou
e a areia falava comigo.

I.
A areia tremante

 um dia fui moça,
disse a areia tremante,
disse-me isto, enquanto tremia.

 um dia abriu-se na minha pequena
vila um buraco; já disse,
era eu uma moça
e por isso ao céu agradecia.

Era eu uma moça, dizia a areia
em tons calmos, que temiam,
mas no céu de minha pequena
vila estava o buraco;
nisto o disparate consistia,
nisto estava o problema.

Havia nesse tempo na minha
vila um senhor de idade,
que desde que abrira no céu
o buraco não comia,
não dormia, falar não falava
palavra. E toda a
vila só conversava sobre a lenda

do buraco. Nos tempos
esquecidos do rei D. Engo
no rio de minha vila,
havia grande acúmulo de sedimentos,
jogados pela fábrica de minérios
como guimbas jogadas ao vento.

E então, em sua sabedoria
naqueles dias o senhor de idade
(a sabedoria é a avó da liberdade)
nos ajuntara em roda. E a nós dizia:
 Porque aos sedimentos dos tempos de D. Engo
nunca se pôs um dreno,
a areia do próprio rio temerá
em tempo futuro como tremerá
o sangue na veia do nosso próprio povo.

Mas calavamos-nos em roda,
e o senhor dizia: Por isso tremo.

(Tremia a areia, dizia coisas terríveis.)

Falava de morte, contava
os dias, e os dias para ele
vinham como cavalos em chamas.

De qual parte e de que modo vieste,
 perguntava aos viajantes.
Dizia o senhor,

Era contigo o universo,
meu tamanho imerso no mar
era pouco, amar era pouco
e o amor era rouco de amar.

Era então a luz; rogou-se à luz:

E que mal fizera Jesus,
que não fora a dor
redentora da palavra dos filhos da luz?